Hoje em dia vivemos num mundo onde cada vez mais se colocam rótulos em tudo, principalmente nas pessoas, fazem-se juízos gratuitamente, já é um hábito.
Não se aceita e respeita o ser humano como ele é, somos únicos e diferentes nas nossas particularidades, mas iguais nos nossos direitos e deveres, somos todos feitos do mesmo e quando cá não estivermos vamos todos para o mesmo sítio.
Realço aqui no meu caso a surdez da Solange.
Quando se diz surdez as pessoas associam a uma pessoa surda-muda, que coitadinha vai fazer um percurso de vida diferente de todas as crianças.
Não, nada disso! Pode-se ser surda oralizada, é o caso da Solange, não deixa de ser surda e ter os seus direitos enquanto isso, mas fala, os implantes trouxeram-lhe som. Só quem ouve, fala!
Como uma pessoa com óculos, usa os para ver melhor, mas quando tira continua a ver mal, assim é a Solange, quando tira os implantes não ouve. Mas com isso não é uma coitadinha, ela entende-nos e é feliz assim.
Há dias na praia, como acontece sempre, tiramos-lhe os implantes e a ela fica sem ouvir, já lhe demos a escolher se quer estar sem eles ou usá-los com umas bolsas de proteção e uma toca daquelas da piscina, como é óbvio ela quer o mais confortável, não usar nada, não é prejudicial para o desenvolvimento dela, já o perguntámos ao otorrino dela e não há problema porque não fazemos disso rotina e é importante que a opinião dela seja ouvida e se ela se sente bem sem eles, é deixá-la à vontade. Voltando ao dia de praia, assim que retirei os implantes e coloquei-os numa caixa para os guardar veio uma senhora ter connosco, primeiro meteu -se com as miúdas e depois perguntou-me se ela ouvia mal, disse-lhe não, ela é surda mesmo, ficou espantada, secalhar com a minha frontalidade no assunto, mas continuou, então se é surda porque usa aparelhos e fala? Surda não deve ser…
Inspira/expira! E vá de responder.
Ela é surda sim, não ouve, mas fala porque usa implantes cocleares desde bebê não são aparelhos auditivos. Mas não tenho que lhe explicar, nem todos os surdos são mudos, e ainda bem que a medicina avança, tente pesquisar um pouco sobre isso. Estava parva, nunca me aconteceu nada parecido.
A senhora lá porque não gostou da resposta, foi se embora e ainda bem, mas ainda disse ‘pois ainda bem, coitadinha! ‘, já nem olhei mais para ela para não me chatear claro!
Há coisas que não dá para controlar e uma delas é chamarem coitadinha a alguém que tem uma patologia clínica, é uma pessoa normal gente!!!
Dizer isso a um pai/mãe ou mesmo ao pé das crianças é só de uma pessoa ignorante!
Já me perguntaram tanta coisa, que se for conveniente, respondo com todo o gosto, porque nem toda as pessoas são obrigadas a saber do assunto, mas há maneiras de abordar os temas e falar.
Falta muito afeto nas pessoas e criam-se cada vez mais rótulos!
Foi só um desabafo!
Beijinhos Rita!
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